Estamos no mês alusivo à Reforma Protestante.
Desde o início do ano venho acompanhando pari passu a Reforma da Previdência promovida pelo governo federal.
Desde 1994 todos os presidentes da República Federativa do Brasil têm afirmado que uma nova previdência é prioridade inadiável.
Com a reforma, deseja-se o equilíbrio do orçamento da previdência social, para fazer frente com o rombo crescente nas contas do INSS.
No dia 23 de outubro o Senado da República concluiu a reforma da previdência e em breve realizará a cerimônia de promulgação para que as novas regras passem a valer.
O texto final da reforma assegurará ao governo federal uma economia de R$ 800 bilhões em 10 anos.
Com a economia produzida pela reforma, o objetivo do governo é fazer a contenção dos gastos públicos e criar, no futuro, oportunidade para mais investimentos em áreas nevrálgicas do País.
Para nós metodistas o tema da reforma é recorrente.
“Martinho Lutero é um dos poucos homens de quem se pode dizer que alterou profundamente a história do mundo, e, seja qual for a opinião quanto à permanência e valor de sua obra reformada, foi, sem dúvida, a figura central da Reforma.
Não possuía a cultura de Erasmo, a lógica de Calvino, a erudição de Melanchthon nem a diplomacia de Cranmer.
Às vezes era rude, e a sua linguagem ofensiva e repugnante. Não era o que se pode chamar um homem humilde e modesto. Antes era arrogante, orgulhoso e irritante. Porém, com estes defeitos e embaraços, possuía exatamente as qualidades e os dons que o equipavam para chefiar um grande movimento popular – firmeza, audácia, convicções profundas e prontidão de ação; dedicação, bondade, generosidade e coragem; compaixão para com o povo, eloquência, energia hercúlea, capacidade excepcional para o trabalho; sorriso e palavra agradáveis, e sempre pronto para qualquer emergência. Se ele tivesse sido mais culto, mais cavalheiro, mais gentil, mais escrupuloso, mais acético, mais modesto, teria recuado diante da sua tarefa; teria perdido a elasticidade mental – ter-se-ia desanimado.
Lutero não era erudito esmerado, nem organizador sólido, nem político fino. Movia os homens pela força da profunda e sincera experiência religiosa, pela sua fé inabalável em Deus e pela reação direta e imediata com o Salvador,
que lhe outorgou uma salvação e não deixou lugar para a elaborada hierarquia e os sacramentos do Catolicismo medieval”¹.
Depois da Reforma Protestante – datada de 31 de outubro de 1517 –, quando Lutero pregou na porta da Igreja as suas 95 teses contra a venda das indulgências, podemos trazer à memória a Reforma promovida por Wesley dentro da Igreja Anglicana.
Às portas da revolução industrial o clérigo anglicano viu a Inglaterra mergulhar num caos espiritual e social e foi tomado por um desejo de reformar a nação, particularmente a Igreja Anglicana.
A Reforma promovida por Wesley pretendia um retorno à experiência e doutrina da salvação pela graça livre.
Após a reforma da previdência e para evitar um colapso social temos ouvido o governo brasileiro afirmar que outras reformas são importantes e precisam ser realizadas como a reforma tributária e administrativa.
Eccleisa Reformata et Semper Reformanda Est
A frase em latim é atribuída ao teólogo reformado holandês Gilbertus Voetius (1589-1676). Ela teria sido proferida durante o Sínodo de Dort, realizado em Dordrecht, Holanda, entre novembro de 1618 e maio de 1619:
“Igreja reformada, sempre se reformando”.
Após a reforma social e espiritual promovida por Wesley na Inglaterra, particularmente na Igreja Anglicana, outras reformas precisam ser promovidas na Vida e Missão da Igreja evitando assim o estado paralisante do metodismo.
Após a reforma de Lutero e a reforma de Wesley outras reformas precisam ser promovidas na vida da Igreja contemporânea.
Os desafios do reformador John Wesley aos metodistas contemporâneos seriam:
→ Um avivamento evangelístico: Wesley não desejou formar uma nova Igreja.
O movimento metodista foi fruto de uma viva experiência da graça regeneradora de Deus em Cristo.
→ Entusiasmo racional: por uma experiência com Deus que combine entusiasmo com juízo, o êxtase da alegria com o domínio e o raciocínio.
→ Espiritualidade esclarecida: Wesley orientava aos seus pregadores a pelo menos cinco horas por dia de leitura de livros sobre uma grande variedade de assuntos.
“O avivamento metodista não foi só o ressurgimento da espiritualidade, mas também um verdadeiro renascimento da cultura e da educação popular”².
→ Evangelismo revolucionário: “O Evangelho de Cristo não conhece outra religião que a social nem outra santidade que a santidade social”.
→ Ministério leigo: valorizar a presença e o papel dos ministérios de leigos e leigas nos vários aspectos da missão da Igreja.
→ Disciplina democrática: importância de saber combinar a ordem com a democracia e a disciplina com a liberdade.
Que o Senhor da Igreja tenha misericórdia de nós e que, inspirado pelos reformadores Martinho Lutero e John Wesley, o metodismo mantenha a sua tradição e avivamento evangélico, entusiasmo racional, espiritualidade esclarecida, evangelismo revolucionário, ministério leigo valorizado e disciplina democrática.
Alexander Christian Rodrigues Antunes
Pastor na Igreja Metodista em São José dos Campos e Superintendente do Distrito Vale do Paraíba
Bibliografia
¹ MUIRHEAD H.H. O cristianismo através dos séculos. Volume II, 3 ed, Casa Publicadora Batista, 1952.
² CAMARGO. Gonzalo Baez. O desafio de John Wesley aos metodistas hoje. São Paulo. Instituto Metodista de Ensino Superior, 1986.
CAVALCANTI Robinson. A Igreja, o País e o Mundo. Viçosa, MG: Ultimato. 2000.
Plano Nacional Missionário. Igreja Metodista: 2012-2016.
SPENER. Philipp Jakob. Pia Desideria. Imprensa Metodista, SP: 1985.
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