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Da Ceia do Senhor (18)

“A ceia do Senhor não é somente um sinal do amor que os cristãos devem ter uns para com os outros, mas antes é um sacramento da nossa redenção pela morte de Cristo, de sorte que, para quem reta dignamente e com fé o recebe, o pão que partimos é a participação do corpo de Cristo, como também o cálice de bênção é a participação do sangue de Cristo. A transubstanciação[1] ou a mudança de substância do pão e do vinho na ceia do Senhor não se pode provar pelas Santas Escrituras e é contrária às suas terminantes palavras; destrói a natureza de um sacramento e tem dado motivo a muitas superstições. O corpo de Cristo é dado, recebido e comido na ceia somente de modo espiritual. O meio pelo qual é recebido e comido o corpo de Cristo, na ceia, é a fé. O sacramento da ceia do Senhor não era, por ordenação de Cristo, custodiado, levado em procissão, elevado nem adorado”[2].


Cálice e pão

O apóstolo Paulo, em sua Primeira Carta aos Coríntios, tratou de maneira objetiva sobre a Ceia do Senhor. Jesus mesmo instituiu esse sacramento como um meio de graça para sua Igreja.

Foi Jesus quem nos convidou para um banquete que começou há mais de dois mil anos e continuará a ser celebrado até o dia em que juntos participaremos do banquete Messiânico!

(Lucas 22.28; Mateus 26.29).


A cerimônia instituída como um memorial de sua paixão e morte, a Ceia do Senhor é momento de reverência e humildade, precedido por arrependimento e confissão de pecados. É uma cerimônia solene, da qual a Igreja participa em atitude de oração. Mas não é uma cerimônia triste, pelo contrário! A Ceia do Senhor é também comunhão, sinal do amor de Cristo por nós e do amor que os cristãos e cristãs têm uns pelos outros.


A Ceia do Senhor ou Comunhão é uma das experiências mais ricas vividas pelo cristão. Ela é uma expressão concreta do amor de Deus

e da experiência de pertencer e ser parte de uma comunidade. Uma comunidade de irmãos e irmãs, a comunidade do povo de Deus.


Após o Pentecostes, o Livro de Atos dos Apóstolos ao narrar a vida dos Apóstolos e dos novos convertidos diz entre outras coisas: “... e perseveravam na doutrina dos Apóstolos, no partir do pão...” (Atos 2.42). A ceia é um encontro de profunda comunhão, amizade e intimidade de Jesus com os discípulos (Lucas 22.19).


Na Ceia do Senhor recordamos toda a vida de Jesus entre nós. Recordamos Sua Palavra, Sua morte na cruz e Sua ressurreição. Recordamos Sua promessa de que iria preparar lugar para nós na Casa do Pai, e também a promessa de que não ficaríamos órfãos, pois seria derramado sobre toda Igreja e sobre toda carne, o Espírito Santo que consolaria, fortaleceria, edificaria e guiaria a Igreja de Jesus.

Na Ceia do Senhor o pão e o vinho simbolizam Seu corpo e sangue. Juntos, formam o cálice da salvação com o qual festejamos e celebramos a vitória do Salvador Jesus que venceu definitivamente a morte.


A celebração da Ceia do Senhor aproxima a todos igualmente de Cristo e uns dos outros.

Na Mesa do Senhor comemos do mesmo pão, bebemos do mesmo cálice, confessamos a mesma fé e esperança e confiamos somente em Jesus: somos irmãos e irmãs!

Sim, neste ato celebramos a comunhão com Deus e com os irmãos e irmãs. É um momento de profunda igualdade, unidade, comunhão e espiritualidade.


Em todo Novo Testamento se fala da unidade em torno de Jesus Cristo. Na Ceia do Senhor é o momento concreto onde esta unidade se realiza.


Como metodistas cremos também que esta ceia irá se realizar em definitivo no momento escatológico[3], após a segunda vinda de Jesus, na plenitude do Reino de Deus, quando veremos a Deus face a face e com ele cearemos no banquete messiânico. Jesus mesmo disse: “Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no Reino de Deus” (Lucas 22.16).


A importância da Ceia do Senhor na vida do cristão


1 – Nós vivemos em um país onde milhares de pessoas não têm o que comer. Muito menos uma mesa para sentarem-se em torno dela e desfrutarem dos bens e frutos da terra, dádivas de Deus a toda a criação.


A Ceia do Senhor, ao ser um espaço democrático e aberto, onde o pão e o cálice são servidos de graça, produz por si mesma um ato de denúncia que deveria ser mais explorado e aprofundado por todos os cristãos. Ali é oferecido de graça o que a sociedade discriminatória e cruelmente tem negado a muitos: o pão!


2 – A Ceia do Senhor deve soar em nossos ouvidos como uma denúncia contra os muros que nós construímos entre nós. Sejam os muros sociais, sejam os muros de idade, ou mesmo os de maneira de pensar (doutrinários, ideológicos, políticos, denominacionais, etc...).

Diante da mesa do Senhor somos todos iguais, ou seja, pobres pecadores carentes da graça salvadora de Deus em Cristo.

3 – A Ceia do Senhor, além de denunciar as desigualdades e injustiças, propõe à Igreja e ao mundo que ambos sejam um grande altar de comunhão, onde honramos a Deus com nossa fraternidade, amor e justiça. Só assim será possível todos terem garantidos o pão, a educação, a moradia, o trabalho, a saúde, a liberdade, a vida, etc...


Se, por um lado, a mesa do Senhor é um tempo de reunião e unidade, ela é também um momento de envio. Na unidade do Corpo de Cristo os ministérios se convergem e se complementam. O cristão, alimentado pela graça, é enviado ao mundo, em serviço. Cristo e a comunidade reafirmam a unidade e a força da graça. E no poder da graça são enviados. Sem a visão da Mesa do Senhor, a Igreja torna seu testemunho ineficaz e sem unidade. A sua espiritualidade tende a secar-se no interior dos templos. “Que todos sejam um!”.


A Ceia do Senhor foi instituída por Jesus. João Wesley, por sua vez, recomendou a Ceia do Senhor como parte fundamental do culto cristão.

Devia ser celebrada com devida frequência. Sobretudo pelo que ela representa, ou seja, a recordação e a atualização da presença e da Palavra de Jesus, bem como da Missão da Igreja. Os metodistas celebram a ceia mensalmente, quase sempre no primeiro domingo do mês.


A Ceia não deve ser tomada se não estivermos conscientes de que realmente estamos arrependidos de nossos pecados e que os tenhamos confessado a Deus.


Uma solene advertência é feita (1 Coríntios 11.27-29). Participar da Ceia do Senhor indignamente é um grave pecado. O indivíduo que assim procede torna-se réu do corpo e do sangue do Senhor.


Em conformidade com o ensino de João Wesley, em seus Vinte e Cinco Artigos de Religião, item 18: “a Ceia do Senhor não é somente um sinal do amor que os cristãos devem ter uns para os outros, mas antes é um sacramento da nossa redenção pela morte de Cristo, de sorte que, para quem reta, dignamente e com fé recebe, o pão que partimos é a participação do corpo de Cristo, como também o cálice da bênção e a participação do sangue de Cristo”[4] .


A Ceia do Senhor é um momento de autoexame e arrependimento, mas também de profunda gratidão e alegria. Devemos nos aproximar da Mesa do Senhor com santa reverência e santo temor

e, ao mesmo tempo, com profunda gratidão e imensa alegria.


Finalmente, o partir do pão e sua partilha (distribuição) a todos os que creem, cria na comunidade um desafio. Jesus partilhou Seu amor e perdão. E foi tão sério Seu compromisso que Ele se dispôs a dar Sua vida. Isto traz para todos os cristãos um dever: a tarefa de imitar Jesus também nisso. Deus terá sempre uma resposta positiva de envio (ide, amai, servi, evangelizai, etc) toda vez que nos perguntarmos: o que eu tenho para partilhar com o povo?


A Mesa da qual participamos é rica em graça, amor e fé. Será que ao participar desta mesa vamos engordar tão somente nossa própria fé?

Ou de fato a mesa do Senhor, ao nos fortalecer, dá a cada um de nós a capacidade de partilhar algo do muito que já recebemos?


Participar da mesa é partilhar do amor de Deus, que não pode esgotar-se em mim mesmo; precisa ser partilhado com os outros.


Rubens Fajardo Junior

Pastor na Igreja Metodista em Betânia, Taubaté/AP.



[1] Transubstanciação é a conjunção de duas palavras latinas: trans e substantia, e significa a mudança da substância do pão e do vinho na substância do Corpo e sangue de Jesus Cristo no ato da consagração. Isto significa que esta doutrina defende e acredita na presença real de Cristo na Eucaristia.

[2] IGREJA METODISTA. Cânones da Igreja Metodista 2012/2016. Piracicaba: Equilíbrio, 2012. p. 44.

[3] ESCATOLOGIA: doutrina que trata do destino final do homem e do mundo; pode apresentar-se em discurso profético ou em contexto apocalíptico.

[4]COLÉGIO EPISCOPAL DA IGREJA METODISTA. Carta Pastoral sobre os Sacramentos. Biblioteca Vida e Missão. Pastorais. n. 8, 1 ed. São Paulo: Cedro, 2001, p. 25.

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