A Igreja visível de Cristo é uma congregação de fiéis na qual se prega a pura Palavra de Deus e se ministram devidamente os sacramentos, com todas as coisas a eles necessárias, conforme a instituição de Cristo.
Para João Wesley, a Igreja tinha um papel fundamental: o serviço. Algo simples, diferente das estruturas da Igreja Anglicana de sua formação e pastoreio inicial.
Recomendo a leitura da Revista Caminhando, de 1993, produzida pela Faculdade de Teologia (FaTeo) com um artigo do Prof. Duncan Alexander Reily, sobre a Eclesiologia de João Wesley.
Vamos destacar alguns aspectos nesta reflexão.
Em uma primeira leitura, João Wesley entendia que a partir da Igreja Primitiva, os “diáconos” cuidavam das questões externas da Igreja, e os Presbíteros das questões internas da comunidade de fé (Filipenses 1.1 e 1 Timóteo 3.2-8). Em seus comentários sobre o Novo Testamento, o Bispo é o “Pastor de uma congregação” (1 Timóteo 3.2). Em 1784, frente ao crescimento do movimento metodista nos Estados Unidos, ele ordena Presbíteros e um superintendente, que seria o Bispo. O Presbítero teria a função de pregar a Palavra e Ministrar os Sacramentos. Uma perspectiva da eclesiologia do ministério ordenado em João Wesley – ressaltando que ele mantinha nos Estados Unidos, o mesmo princípio dos pregadores leigos.
Depois
encontramos Wesley reconhecendo os “ministérios extraordinários”, aqui no exercício dos dons do Espírito, na manifestação da graça de Deus e já o princípio da aceitação do ministério feminino, pregadoras leigas e professoras de classes bíblicas.
Ele faz isto a partir do texto de Efésios 4.4-6: Há um só corpo, um só Espírito, um só batismo exterior, um só Deus e Pai. A partir desta realidade a Igreja vive o princípio de Lutero do “sacerdócio universal de todos os Santos”.
Outro conceito da eclesiologia de João Wesley é que a Igreja é “essencialmente uma”. Ele reforça as declarações de fé da Igreja Primitiva por meio do Credo Apostólico. O que nos faz Igreja está expresso nesses valores. Alguns sermões de Wesley vão tratar deste tema, como ao “católico romano”, ou “ao não sectarismo”.
Outro ponto importante para Wesley era que a Igreja era um lugar de “adoração”. Ele desenvolveu uma rotina devocional, hinos apropriados para cada momento do culto. E não era dissociada dos sacramentos, como meios de graça, Batismo e Ceia. Ponto central do culto metodista, a Ceia do Senhor deveria estar presente em todos os cultos.
Neste entendimento da adoração estão presentes também as disciplinas espirituais, como a leitura da Palavra, o jejum, a oração e a contribuição. A ideia era de uma Igreja simples o que contrastava com a Igreja Anglicana. Uma perspectiva diferenciada. A adoração estava intimamente ligada à vida devocional. Creio que
este é um desafio para os nossos dias, pois muitas vezes vamos ao culto para nos servir dele e não para adorar ao nosso Pai celeste.
É comum ouvirmos: hoje eu não gostei do culto; da palavra; do coral; dos louvores. Mas isso é um equívoco! Quem tem que gostar do culto é Deus; é para Ele que prestamos culto, e não para nós, para nosso deleite ou paladar. Nosso congraçamento deve nos levar a uma adoração sincera e verdadeira como em João 4: “Importa que seus adoradores o adorem em Espírito e em verdade”.
Mais uma característica desta eclesiologia em João Wesley era a clareza de que a Igreja deveria ser “missionária”. Ele apresentava isso a partir do Credo de Niceia, dos textos de Mateus 28.18-20 e João 17.18, onde deveríamos “discipular o mundo”. O discipulado está no DNA metodista. Inicialmente, por intermédio das sociedades, depois dos bands, dos grupos de santidade, promovidos pela Igreja. Pequenos grupos para compartilhar da Palavra; acompanhamento mútuo; cuidado uns com os outros. Isso como parte do propósito da Igreja Metodista em “reformar a Nação, particularmente a Igreja e espalhar a santidade”. Em João 17, na oração sacerdotal, o envio dos cristãos ao mundo, o pedido de Jesus: Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. João Wesley leva o mesmo propósito de reformar a Nação para os Pastores norte-americanos. Questionados sobre o propósito da Igreja nos Estados Unidos, eles respondem: reformar o continente norte-americano. Isso passa pelas regras estudadas anteriormente, que é o trabalho social, “dar alimento aos necessitados, vestir os nus, ajudar os doentes, visitar os encarcerados”. Assim os metodistas se envolviam em “reformas social, carcerária, educação popular e luta contra escravidão”.
Este conceito de Igreja levou os metodistas a entenderem e exercerem sua vocação, pelo exemplo, da pregação ao ar livre, o ministério “itinerante”, buscar pessoas onde estivessem e pudessem pregar, a pregação leiga e grande distribuição de literatura. Mas a ideia de João Wesley sempre foi a de não confinar a Igreja aos “muros da Inglaterra”, mas expandi-la para fora do continente europeu e americano. A Igreja para João Wesley era esse espaço de serviço.
Com base em Atos 2.41-47,
a Igreja se organizava pelos seus dons, viviam com singeleza de coração, se visitavam, e a comunidade olhava para a Igreja com simpatia.
Uma comunidade de adoradores e adoradoras, que verdadeiramente se dedicavam a fazer a vontade de Deus. Um lugar em que os aflitos poderiam se refugiar, “vinde a mim os que estão cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei” – palavra do próprio Jesus. Mas uma Igreja que também se preocupava com quem estava fora, o necessitado, o órfão, a viúva.
Para definir a Igreja Metodista, gosto da expressão uma Igreja com seus braços de amor: um braço voltado para a educação; o outro, para o social. Durante toda a história do metodismo sempre encontramos as escolas, depois as faculdades e, atualmente, as universidades, e trabalhos sociais relevantes, como creches, Amas, projetos de Terceira Idade. Nos Estados Unidos, além das Universidades há também hospitais. Atualmente somos uma Igreja organizada em dons e ministérios, onde devemos exercer o amor, a graça e a presença de Deus em solo brasileiro. Como Igreja temos resgatado o espírito do metodismo primitivo por intermédio dos pequenos grupos, células (os antigos bands), onde procuramos cuidar uns dos outros, porém sem abrir mão de sermos uma Igreja de governo episcopal e itinerante.
No último Concílio Geral da Igreja Metodista, definiu-se que não somos uma Igreja organizada em células, e sim, uma Igreja organizada em dons, ministérios, grupos societários, que utilizam dos pequenos grupos, células, para a prática do discipulado.
Devemos procurar, a cada dia, sermos mais “simples” em nossas estruturas e mais comprometidos como Igreja em adorar e proclamar a salvação que está em nome de Jesus. Viver o discipulado como estilo de vida e não como uma simples estratégia momentânea. Os bands geraram uma Igreja saudável e missionária, de homens e mulheres comprometidos com o evangelho.
Hoje nosso desafio é voltarmos a ser uma Igreja missionária e relevante. Uma “congregação” de homens e mulheres comprometidos com o Evangelho de Jesus Cristo.
Marcos Antonio Garcia
Comentarios