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Do casamento dos ministros (21)

Atualizado: 14 de nov. de 2018

Famílias sacerdotais


“Os ministros de Cristo não são obrigados perante a lei de Deus, quer a fazer o voto de celibato, quer a abster-se do casamento; portanto é tão lícito, a eles como aos demais cristãos, o casarem-se à sua vontade, segundo julgarem melhor à prática da piedade”. (21) Do casamento dos ministros.


“O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar o Senhor [...], Mas o que é casado cuide em como há de agradar sua mulher [...], a casada cuida das coisas do mundo em como agradar seu marido” (1 Coríntios 7.32-34).



O apóstolo Paulo trabalha em sua carta à Igreja de Corinto três aspectos importantes na vida de um cristão: o celibato, o casamento e seus desdobramentos. Essa foi a mesma preocupação de Martinho Lutero no início da reforma e de João Wesley nos seus Vinte e Cinco Artigos sobre Religião.

O celibato é comumente conhecido como dom voluntário ou castidade. É a capacitação para se sentir realizado no estado civil de solteiro (abstinência sexual), por estar liberado para uma dedicação completa ao ministério abraçado. A manifestação do celibato não necessariamente ocorre quando criança, mas é possível que alguém, mesmo após ter se relacionado anteriormente, receba o dom e deixe de se interessar e ter prazer em viver ao lado de uma esposa ou marido.


Pessoas com este dom:

  • Não têm desejo de relacionamento íntimo, nem se sentem atraídas sexualmente por ninguém;

  • São completamente felizes em seu estado de castidade.


Somente é possível viver este dom na força de Deus e jamais na força humana. Se alguém crê que tem este dom do celibato, mas tem pensamentos e intenções sexuais, ou ainda sofre tentações sexuais, na realidade vive uma mentira e um roubo de satanás, visto que Deus criou o sexo para ser vivido na integralidade do casamento. Jesus Cristo e o apóstolo Paulo viveram o celibato (1 Coríntios 7.7,8, 36-38; 1 Coríntios 13.3; Juízes 11.39). De acordo com o texto bíblico, Cristo e Paulo escolheram estar solteiros embora Lutero e Wesley como sacerdotes tiveram seus corações tomados por uma paixão arrebatadora e aventureira. Wesley viveu esta paixão e permaneceu no seu estado solteiro (não se tem muita informação sobre isso). Lutero casou-se com Katharina von Bora, em 13 de junho de 1525, tornou-se em muitos aspectos, o ideal paradigmático para a família protestante. Inicialmente, o seu casamento não foi por amor. Katharina tinha escapado de um convento de freiras em Nimbsch, perto de Grimma, com várias outras freiras, e acabou buscando refúgio em Wittenberg. Durante algum tempo, Lutero agiu como uma espécie de intermediário matrimonial, procurando encontrar maridos para as freiras. Por fim, Katharina ficou sozinha, e Lutero casou-se com ela, disse ele, para agradar ao pai, que sempre quisera netos, e também, como Lutero inigualavelmente afirmou, por desprezar o papa.


Na Igreja Metodista o casamento não é um sacramento. Na Igreja Metodista os sacramentos são meios de graça: sinais visíveis da graça invisível de Deus (cf. Seção II, Artigo 8 – Cânones 2016), os dois únicos sacramentos são o Batismo e a Ceia do Senhor.

No Cânones, na Seção IV, Do Matrimônio: a Igreja Metodista reconhece o direito que assiste ao governo civil de legislar sobre o casamento e exige de seus membros obediência às leis de seu País, segundo os princípios do Evangelho; e, ainda que não considere o matrimônio sacramento, exorta os cristãos a pedirem a bênção divina sobre a sua união. O terceiro parágrafo do mesmo Artigo diz: “Nenhum ministro ou pastor metodista pode celebrar a bênção do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, por ser isso incompatível com as doutrinas e práticas da Igreja Metodista”. E no Artigo 14: “Das Bodas: Reconhece que o matrimônio feliz é uma bênção de Deus para todos os seus membros, é admitida a comemoração da data em que o enlace se realizou”.


O casamento dentro dos princípios bíblicos e das leis canônicas da Igreja Metodista é uma bênção de Deus tanto para leigos tanto para o corpo clérigo.

Se alguém se sente bem em seu estado de solteiro (clero ou leigo) e se sua vida agrada a Cristo também é uma bênção! O critério é agradar a Cristo, nosso Senhor. O casamento nunca foi conto de fadas nem muito menos algo fácil de se viver e conviver. Não podemos dizer que casamento é “brincar de casinha”, nem muito menos “brincadeira de criança”. Casamento tem seus desafios e deve ser algo construído com fundamento, seriedade e muita propriedade. O Bispo Nelson Luiz Campos Leite em seu livro: “Há esperança para a família” [1] escreveu:


“Tudo na vida tem fundamento. Hoje na construção de um edifício, grande parte de tempo e dinheiro são gastos no seu fundamento. Além disso, para cada tipo de construção, de terreno, de atividade, ou área da vida ou do trabalho há fundamentos diferenciados. No esporte, se não houver fundamentos básicos para cada modalidade, não se consegue nem resultado, nem apresentação digna daquilo que se espera. Da mesma forma, a Palavra de Deus nos apresenta fundamentos que devem existir na sua família”.



O casamento é uma construção de fundamentos ao longo da vida, principalmente quando se trata do matrimônio sacerdotal, além das demandas normais de um casal, uma família sacerdotal tem as demandas eclesiásticas.

Podemos afirmar que em uma família sacerdotal temos um Pastor de ofício e uma Pastora de coração; ou uma Pastora de ofício e um Pastor de coração; ou ambos podem ser Pastores de ofício,

os chamo de família sacerdotal que, apesar do ofício eclesiástico, todos, como cristãos, somos sacerdócio real diante de Deus. Todos temos o dever de exercer este sacerdócio (1 Pedro 2.9), casados, solteiros, somos todos sacerdotes do cordeiro e temos o dever de fundamentar nossas vidas nisso. Pode se escolher não ser Pastor/a de ofício, mas todos/as temos o encargo de o ser de coração, por meio do discipulado e do cuidado cristão mútuos, tantos os de casa, quanto os de fora e os da comunidade de fé (Gálatas 6.10; 1 Tessalonicenses 5.11).

O casamento não é algo simples, porém se bem fundamentado em Cristo, debaixo da orientação do Espírito pode ser um manancial de vida e esperança.

O Bispo Nelson continua:


“E há esperança, sim, na vida da família, quando nós trabalhamos esses fundamentos. Pense nisso: ‘Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que edificam’ (Salmo 127.1). Vamos considerar alguns dos fundamentos presentes na família. A palavra de Deus, a Psicologia, as Ciências Sociais e o estudo das experiências relacionais do ser humano fornecem alguns bons fundamentos...” [2].



A família é uma ciência inexata, pois cada família tem seu jeito, sua configuração e sua forma de ser, porém isso não significa que não exista ciência para tal. Há muito material de pesquisa e há muita informação sobre a família e suas diversas configurações na era da pós-modernidade.

O que de fato é importante para o casamento de um ministro ou de um membro comum da Igreja é que seu casamento e sua vida estejam fundamentados em Cristo, para vencer aos desafios e as demandas desse mundo.

“Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Coríntios 3.10,11).


Que assim como o apóstolo Paulo declara, possamos observar como edificamos nossas vidas e nosso casamento sobre este fundamento, como sábios construtores.


Na paz e no amor de Cristo, fraternalmente,


Israel Alcantara da Rocha

Pastor na Igreja Metodista em Praia Grande.


Referências:

Cânones da Igreja Metodista 2012/2016.

[1] LEITE, Nelson Luiz Campos. Há esperança para a família: com reflexões, descrições de casos, orações e atividades. Série Cristianismo Prático, vol. 8. São Bernardo do Campo: Editeo, 2012.

[2] Ibidem.

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