Dos ritos e cerimônias da Igreja: nosso desafio de cuidado com o culto
Dos Ritos e Cerimônias da Igreja é o título de um dos artigos do documento denominado Vinte e Cinco Artigos de Religião do Metodismo Histórico, elaborado por João Wesley a partir dos 39 Artigos de Fé da Igreja Anglicana. Trata-se de um dos documentos que orientam a tradição doutrinária metodista, ao lado do Credo Apostólico, dos Sermões de João Wesley e de suas Notas sobre o Novo Testamento, “fundamentados nas Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos, única regra de fé e prática dos cristãos” (IGREJA METODISTA, 2012, p. 37).
Em meio a assuntos como a Fé na Santa Trindade, o Verbo ou Filho de Deus que se fez verdadeiro homem, a Ressurreição de Cristo, o Espírito Santo, a Suficiência das Sagradas Escrituras, os Sacramentos, a Oblação única de Cristo sobre a cruz, dentre outros, o 22 Artigo trata sobre os Ritos e Cerimônias da Igreja, e afirma que:
Não é necessário que os ritos e cerimônias das Igrejas sejam em todos os lugares iguais e exatamente os mesmos, porque sempre têm sido diferentes e podem mudar-se conforme a diversidade dos países, tempos e costumes dos homens, contanto que nada seja estabelecido contra a Palavra de Deus. Entretanto, todo aquele que, voluntária, aberta e propositadamente quebrar os ritos e cerimônias da Igreja a que pertença, os quais, não sendo repugnantes à Palavra de Deus, são ordenados e aprovados pela autoridade competente, deve abertamente ser repreendido como ofensor da ordem comum da Igreja e da consciência dos irmãos fracos, para que os outros temam fazer o mesmo. Toda e qualquer Igreja pode estabelecer, mudar ou abolir ritos e cerimônias, contanto que isso se faça para edificação (IGREJA METODISTA, 2012, p. 45).
É importante destacar no breve artigo que,
embora não seja necessário padronizar os ritos e cerimônias de nossas Igrejas, especialmente diante da diversidade da cultura, dos tempos e costumes das pessoas, afirma a necessidade de que “nada seja estabelecido contra a Palavra de Deus”,
assim como a necessidade de repreensão para quem “voluntária, aberta e propositadamente quebrar os ritos e cerimônias da Igreja a que pertença”, porque esses ritos e cerimônias, “não sendo repugnantes à Palavra de Deus, são ordenados e aprovados pela autoridade competente”.
Tais orientações e advertência evidenciam a grande responsabilidade com a observância e cuidado quanto às normas estabelecidas pela Igreja para os seus ritos e cerimônias, considerados de vital importância para sua vivência de fé e testemunho.
É certo que o culto é o foco do artigo, devido à sua importância, tanto que a legislação canônica em suas Normas do Ritual o define como “um serviço devido a Deus pelo seu povo” que “se expressa em todos os planos da existência humana” (IGREJA METODISTA, 2012, p. 67), também definido como:
Uma parcela do serviço total do povo de Deus, no qual o Senhor vem ao seu encontro, requer a sua adoração, mostra-lhe o seu pecado, perdoa-lhe quando se arrepende, confia-lhe a Sua mensagem e espera a sua resposta em fé, gratidão, amor e obediência. (IGREJA METODISTA, 2012, p. 68).
Interessante que
a normativa ao afirmar o culto como “um serviço devido a Deus por seu povo” o relaciona com a vida humana em sua plenitude, como um serviço que não se esgota na experiência do culto público, este entendido como apenas “uma parcela do serviço que é prestado pelo povo a Deus”.
Isso porque o culto continua depois daquele tempo em que a comunidade de fé esteve reunida em adoração, quando as pessoas dedicam suas vidas ao serviço do povo em nome de Deus, em suas casas, em seus locais de trabalho, de estudo e lazer, e nos caminhos da vida; quando estendem a mão a quem está caído, quando dão alimento a quem tem fome, vestimenta a quem está nu ou com frio; quando visitam as pessoas enfermas, acamadas ou aprisionadas; quando acolhem umas às outras como irmãs ou como alvo de seu testemunho de amor e da salvação em Jesus.
Considerando a importância das outras expressões e da continuidade do culto oferecido a Deus, ressalta-se que o foco do artigo é aquele momento do culto público, entendido como de fundamental importância e que carece de todo cuidado de quem o organiza e de quem o dirige, tanto que a normativa afirma o culto como o
Momento no qual o povo de Deus se identifica com a história das relações entre Ele e a humanidade (a “História da Salvação”), recordando-a em sua totalidade ou partes, nos momentos específicos de adoração, confissão e perdão, louvor, edificação e dedicação, especialmente no Batismo e Santa Ceia. (IGREJA METODISTA, 2002, p. 1)[1]
O culto público é tão importante para a Igreja que, ao descrever aquela “parcela do serviço total do povo de Deus”, apresenta as partes importantes que devem fluir durante a realização do culto: Adoração: “o Senhor vem ao seu encontro, requer a sua adoração”; Confissão: “mostra-lhe o seu pecado, perdoa-lhe quando se arrepende”; Edificação: “confia-lhe a Sua mensagem”; Dedicação: “e espera a sua resposta em fé, gratidão, amor e obediência” (IGREJA METODISTA, 2012, p. 68). Além dessas partes que encontram referência na narrativa bíblica de Isaías 6.1-8, a normativa da Igreja ainda acrescenta a parte de Louvor entre a Confissão e a Edificação.
Neste sentido,
é imperativo que todos e todas que são responsáveis pelos cultos, como organizadores/as ou dirigentes, conheçam e considerem as Normativas e Orientações da Igreja, além de seguir referenciais que fundamentam e norteiam a sua realização.
De forma simples, significa dizer que cada pessoa ou equipe que prepara um culto, por singelo que seja o momento, deve pensar e definir sobre certos materiais ou recursos que precisam estar disponíveis em sua mesa de trabalho, a saber:
A Bíblia Sagrada e outros materiais que possibilitem o bom entendimento e explicação sobre o texto bíblico na origem, sua composição e cronologia, seu contexto político, social e econômico, sua geografia, etc.
O Lecionário Comum Revisado, com a indicação das leituras bíblicas para cada domingo, um ótimo recurso e ferramenta que ajuda para que toda a Bíblia seja considerada e não somente aqueles textos de nossa preferência ou que reforçam nossas prioridades.
O Calendário Litúrgico Cristão, que organiza as celebrações litúrgicas da Igreja Cristã, ao lado do Lecionário, um ótimo recurso e ferramenta para que a História da Salvação em Jesus seja celebrada ciclicamente durante cada ano.
Materiais de História e Teologia, que possibilitem uma correta interpretação e atualização dos relatos e mensagens de um tempo tão distante para os tempos atuais, seguindo as referências históricas, teológicas e doutrinárias de nossa Igreja.
Informações da comunidade da Igreja, do bairro, da cidade, da nação e do mundo: o jornal e as informações que se adquire na convivência com as pessoas, famílias e comunidades.
Hinários e Cancioneiros, que ofereçam a oportunidade de cantar a nossa fé, com composições da tradição histórica da fé cristã, assim como composições contemporâneas, com boa teologia, boa poesia e boa música, com linguagem comunitária e conteúdo apropriado aos objetivos de cada parte do culto.
Outros recursos: poesias, pinturas, paramentos litúrgicos, etc.
Normativas e Orientações: Normativas para a Celebração de Cerimônias do Ritual e Outras, a Pastoral do Colégio Episcopal O Culto da Igreja em Missão[2], os Cânones da Igreja Metodista, etc.
Finalmente, o que se percebe no Artigo do documento histórico, e que é reforçado nas normativas, é que
os cultos realizados pela Igreja são espaços por excelência para o exercício dos dons a serviço de nosso Deus, sempre com alegria e espontaneidade, mantendo a ordem e a reverência e buscando a edificação da comunidade de fé.
O culto público como espaço privilegiado para a expressão de louvor e adoração do povo de Deus, para a leitura e pregação da Palavra de Deus, assim como para o ensino, a exortação e o anúncio da boa-nova da salvação em Jesus, precisa de cuidadoso preparo e planejamento. Portanto, cuidemos de nosso ritos e cerimônias! Busquemos oferecer o melhor serviço ao nosso Deus.
Jonadab Domingues de Almeida
Pastor coadjutor na Igreja Metodista em Pinheiros, na 3ª RE
Pastor comissionado da 6ª RE
Professor na Faculdade de Teologia
Referências
IGREJA METODISTA. Cânones da Igreja Metodista 2012/2016. Piracicaba: Equilíbrio, 2012.
_______________. O Culto da Igreja em Missão, São Paulo: Editora Cedro, 2006.
_______________. Normativas para Celebração de Cerimônias do Ritual e outras, São Paulo, 2002.
[1] IGREJA METODISTA, Normativas para a Celebração de Cerimônias do Ritual e Outras, 2002, disponível no Site da Sede Nacional: http://metodista.org.br/content/interfaces/cms/userfiles/files/documentos-oficiais/Normativas_para_Celebracoes_de_Cerimonias_do_Ritual.pdf
[2] IGREJA METODIDSTA. O Culto da Igreja em Missão, São Paulo: Editora Cedro, 2006. Disponível no site da Sede nacional: http://www.metodista.org.br/arquivos/v/cartas-pastorais
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