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Tarefas de casa na casa de Deus: ECOlogia, ECUmene e ECOnomia

Introdução


Tarefa de casa, ou melhor, “dever de casa”, é uma expressão que todos conhecemos, especialmente, do nosso tempo escolar: trata-se da tarefa levada da escola para a casa. É um exercício que ou procura se apropriar de um assunto, ou aprofundar um assunto: é algo que vem de fora, que é feito em casa e depois a gente leva para fora de novo. Creio que isso vale também para o tema: ECOlogia, ECUmene e ECOnomia. Sabemos que a raiz que dá origem aos prefixos “Eco” ou “Ecu” é “oikos” o que por sua vez significa, simplesmente, “casa”. Obviamente,

quando se fala da ECOlogia, ECUmene e ECOnomia, fala-se de uma casa maior do que as nossas casas particulares, das nossas Igrejas locais, da nossa Igreja Metodista, de todas as Igrejas cristãs.

Fala-se da casa comum da antroposfera que faz parte da biosfera. Para muitas pessoas, muitos dos temas que acompanham as palavras ECOlogia, ECUmene e ECOnomia vêm de fora da Igreja e não são uma prioridade na casa de Deus. O tema não nasceu na Igreja para depois conquistar o mundo inteiro. Pelo contrário, é um conjunto de temas que preocupa o mundo desde as declarações do Club of Rome, na década de 1970, do século 20 e que foram abraçados por plataformas internacionais como as Nações Unidas e o Conselho Mundial das Igrejas com a famosa década para pensar a relação entre “Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC)” – entre 1981 e 1990.


O título deste texto sinaliza que será importante remar contra essa maré. “Tarefas na casa”, ou melhor, “tarefas domésticas” e “tarefas de manutenção da casa” são aquelas tarefas necessárias para garantir uma longa vida da casa e da vida nessa casa. São as tarefas que, preferencialmente, antecipam problemas, são aquelas tarefas que resolvem problemas agudos. “Deveres de casa”, assim me parece, têm algo em comum com “tarefas domésticas” ou “tarefas de manutenção”: elas não são muito populares. Estas tarefas, inicialmente, não se fazem por prazer, não se fazem nem para ficar feliz de imediato: são tarefas que requerem uma motivação que serve como contrapeso do suor, das frustrações, do enfrentamento da angústia de ser incapaz ou não suficientemente capaz de resolver tal tarefa. Limpar a casa nos previne de doenças. Observar o sistema elétrico nos salva de curtos circuitos que podem danificar equipamentos caros ou provocar um incêndio. Cuidar do sistema hidráulico, manter a água limpa, preserva a substância da estrutura da construção.


Quando nos perguntamos como se motiva na casa, na Igreja

para que haja perseverança para chegar a algum lugar, especialmente na questão de grandes temas da casa comum, como ECOlogia, ECUmene e ECOnomia, precisamos unir aspectos, mundos, áreas que muitas vezes andam separados.

Comunhão com Deus. Comunhão com o próximo


É importante falar do coração ou do ser humano. Ou falar do coração e do ser humano em relação à natureza. E daí vem o ciclo do pessoal para o comunitário; do comunitário para o social ou ecumênico; e, finalmente, do social e ecumênico para o ecológico.


Wesley chamava de “religioso social”, aquilo que não se refere ao aspecto diaconal da Igreja, mas ao seu aspecto comunitário, aquilo que a palavra grega koinonia descreve como a comunidade da fé. Evidentemente, falamos aqui tanto da comunhão com Deus como da comunhão com o nosso próximo. Em comparação com o mundo ao nosso redor, as duas perspectivas representam ainda uma perspectiva focada ao interior da Igreja.


Wesley, na sua época, era especialmente capaz de abrir o seu coração para humanidade (além do nível pessoal e comunitário ou eclesiástico):


É Fato reconhecido, mesmo por aqueles que não pagam este grande tributo, que o amor é devido a toda a humanidade; a lei real: “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”, demonstra sua própria evidência a todos que a ouvem: e isto, não segundo a miserável construção levantada sobre ela pelos fanáticos dos velhos tempos: ― “Amarás a teu próximo”, teus parentes, conhecidos, amigos, e “aborrecerás a teu inimigo”. Não assim ― “eu vos digo” ― afirma nosso Senhor: “Amai a vossos inimigos, ­bendizei aos que vos amaldiçoam, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem, para que possais ser filhos” ― possais aparecer assim a toda a humanidade ― “de vosso Pai celestial, que faz levantar-se seu sol sobre os maus e os bons e cair a chuva sobre os justos e os injustos” (Sermão 39: O Espírito Católico/Ecumênico).


Este espírito ECUmênico se fundamenta em Wesley na sua convicção de que os grandes problemas da vida somente são atacados ou até resolvidos quando muitas pessoas se unem.

Assim, ele também se uniu na luta contra a escravidão com diversos setores da sociedade.

Precisamos aprender a amar de todo coração as gerações futuras, não somente dos seres humanos, mas de todas as criaturas.

Talvez nos ajude nessa caminhada um novo Credo Social. Com um exemplo de 2007, criado 100 anos depois do primeiro, contempla esse credo agora também a dimensão ecológica:


Um Credo Social para o século 21: a mais recente versão do Credo Social estadunidense como inspiração para a atualização do Credo Social brasileiro

Conselho Nacional de Igrejas Cristãs dos EUA


NÓS, IGREJAS DOS ESTADOS UNIDOS temos uma mensagem de esperança nestes tempos de pavor.


1 - Justamente como as Igrejas responderam em 1908 à crueldade da industrialização, no início do século 20, com um “Credo Social” profético, assim

na nossa era de globalização nós oferecemos a visão de uma sociedade que compartilha mais e consome menos, procura compaixão ao invés de suspeição, igualdade no lugar da dominação; que encontra segurança em mãos unidas e não através das armas.

Inspirado pela visão de Isaías de um “reino pacífico”, honramos a dignidade de todas as pessoas e o valor intrínseco de cada criatura, oramos e trabalhamos pelo dia em que ninguém “trabalhará em vão e nem terá filhos para a calamidade” (Isaías 65.23). Fazemo-lo como discípulos daquele que veio “para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (João 10.10), e permanecemos solidários com os/as cristãos/as e com todos/as os/as que lutam por justiça em todo o mundo.


2 - Em fé, respondendo ao nosso Criador, celebramos a plena humanidade de cada mulher, homem e criança, todos/s criados/as à imagem de Deus como indivíduos de infinito valor, trabalhando por:


2.1 - Direitos civis, políticos e econômicos plenos para mulheres e homens de todas as etnias.
  • 2.2 - Abolição do trabalho forçado, do tráfico humano e da exploração de crianças.

  • 2.3 - Emprego para todos/as, por um salário capaz de sustentar uma família e com pagamento igual para trabalho igual.

  • 2.4 - Direitos dos/as trabalhadores/as de se organizar, e de compartilhar as decisões e o crescimento de produtividade nos locais de trabalho.

  • 2.5 - Proteção para condições de trabalho perigosas, com tempo e benefícios que permitam uma vida familiar plena.

  • 2.6 - Um sistema de reabilitação criminal, baseado em justiça reparadora e o fim da pena de morte.


3 - No amor encarnado em Jesus, apesar dos sofrimentos e males do mundo, honramos as relações profundas em nossa família humana e procuramos despertar um novo espírito de comunidade,

trabalhando por:


  • 3.1 - Eliminação da fome e da pobreza e a adoção de políticas que beneficiem os mais vulneráveis.

  • 3.2 - Ensino público de alta qualidade e acesso pleno à saúde para todos/as. Um programa eficaz de segurança social em caso de doença, invalidez e velhice.

  • 3.3 - Políticas orçamentais e fiscais que reduzam as desigualdades entre ricos e pobres, que reforcem a democracia e proporcionem mais oportunidades para cada ser humano dentro do bem comum.

  • 3.4 - Políticas de imigração justas que protejam a integridade da família, exijam os direitos dos trabalhadores, requerendo dos empregadores a responsabilização e fomento da cooperação internacional.

3.5 - Ambientes sustentáveis, caracterizados pelo alcanço a boas moradias,

acesso a bons trabalhos e à segurança pública.

  • 3.6 - Serviço público como uma grande vocação, com limites claros para o poder dos interesses privados na política.

4 - Na esperança sustentada pelo Espírito Santo, comprometemo-nos em promover a paz no mundo e sermos guardiões da boa criação de Deus,

trabalhando para:

  • 4.1 - Adoção de estilos de vida mais simples para quem possui o suficiente; onde a graça é mais importante que a ganância na vida econômica.

  • 4.2 - Acesso para todos/as ao ar limpo, água e alimentos saudáveis, por meio de cuidados sábios para com a terra e tecnologias responsáveis.

4.3 - Uso sustentável dos recursos da terra, promovendo fontes de energia alternativas e transporte público com convênios engajados em reduzir o aquecimento global e proteger as populações mais afetadas.
  • 4.4 - Comércio global justo e os auxílios que protejam as economias locais, culturas e meios de subsistência.

  • 4.5 - Promoção de paz pela diplomacia multilateral ao invés a força unilateral, a abolição da tortura e o fortalecimento da Organização das Nações Unidas e o incremento das leis internacionais.

  • 4.6 - Desarmamento nuclear e redirecionamento dos gastos militares para fins mais pacíficos e produtivos.

  • 4.7 - Cooperação e diálogo pela paz e a justiça ambiental entre as religiões do mundo.


5 - Nós, cristãos, individualmente e como Igrejas – nos comprometemos com uma cultura da paz e da liberdade que abraça a não-violência, promove o caráter, valoriza o ambiente e constrói comunidades, enraizada numa espiritualidade de crescimento interior com ação voltada para o exterior. Fazemos este comprometimento juntos – como membros do corpo de Cristo, liderados pelo Espírito – confiando em Deus que faz novas todas as coisas.

Helmut Renders

Pastor na Igreja Metodista em Vila Floresta e Professor na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista (FaTeo)



Texto elaborado a partir da Conferência ECOlogia, ECUmene e ECOnomia proferida durante as atividades da Semana Wesleyana, na Faculdade de Teologia, em maio de 2019.

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