“Missões se faz com os joelhos de quem ora, as mãos de quem investe (contribui) e os pés de quem vai”.
Este é um slogan muito usado quando se fala de missões, na tentativa de envolver a Igreja na ação missionária e dar suporte a quem vai a campo para anunciar o Evangelho. Certamente é uma expressão muito válida, mas pode dar a entender que a oração é tarefa de um grupo, o investimento de outro e o ir de algumas pessoas. Porém, não é bem assim... A oração, como ferramenta indispensável, precisa estar presente em todo o tempo, em todas as etapas da ação missionária, por parte de toda a Igreja. Contribuir não nos isenta de orar, muito menos o faz o ir.
De que Missões estamos falando?
O papel da Igreja de Cristo é, basicamente participar do propósito de Deus de salvar o mundo: fazendo discípulos e discípulas para Jesus, anunciando o Evangelho, denunciando a injustiça, testemunhando sobre amor e a graça de Deus manifesta em Jesus Cristo. Como afirma o bispo Peres em sua pastoral “Falando sobre missões”, “Missões é a participação da Igreja, como corpo de Cristo, no cumprimento da missão”, que é de Deus. Então, Missões fala da ação missionária da Igreja na direção das pessoas. Refere-se ao anúncio, à expansão do Reino que se dá quando saímos de nós mesmos e das quatro paredes do templo, colocamos nossa fé em prática para proclamar o Evangelho (se bem que no ambiente da Igreja também se faz isso). Vale lembrar que há diferentes formas de fazer missões, e ferramentas/estratégias que usamos para alcançar as pessoas, muitas vezes, inclusive, assistindo-as em suas necessidades, como de alguma forma também fez Jesus.
Assim, a ação missionária é pessoal e comunitária, e quando falamos de missões estamos falando do avanço (crescimento) da Igreja de Cristo. Envolve a tarefa do evangelismo pessoal, das viagens missionárias, campanhas, ações missionárias de modo geral.
E qual o lugar da oração?
A (vida de) oração traz revelação e sustenta a obra missionária.
Vejamos alguns exemplos que relacionam a oração com missões na Bíblia.
No Antigo Testamento podemos citar, entre outros, Neemias cuja missão foi restaurar os muros de Jerusalém (A oração gerou a missão – Ne. 1:4-11ss – e estava presente diante das ameaças, no cumprimento da missão – 4:4-8) e Ester, que tinha a missão de interceder pela vida de seu povo (diante do risco de morrer, convocou o povo para orar e jejuar três dias antes de agir – Et. 4 – o que trouxe estratégia de ação e graça diante do rei).
Os Evangelhos nos mostram a importância da oração ação missionária de Jesus, nosso melhor exemplo, que se preparou em jejum e oração para assumir o ministério terreno (Mt. 4:1-2), passou a noite orando antes de chamar seus 12 discípulos (Lc. 6:12-13), tinha uma disciplina de oração constante (Mc. 1:35; Mt. 14:23; Lc. 6:12; Jo. 6:11; 11:41-42), orou antes de assumir definitivamente a cruz (Mt. 26:36-45), orou pela continuidade da missão (Jo. 17:20) e consagrou a missão/obra em oração (Lc. 23:46).
Além disso, temos a inspiração da Igreja Primitiva cuja história está no livro de Atos. Uma igreja nascente que aguardou em Deus o revestimento do Espírito Santo (At. 1:12-14), tinha a oração como estilo de vida (At. 2:42), orava diante das perseguições (At. 4:23ss; 12:9-12). Como fruto da vida de oração, a ação missionária se desenvolvia “tanto em Jerusalém como na Judeia e Samaria, até os confins da terra”. Alguns exemplos notórios são a visita de Pedro a Cornélio, fruto da visão que teve em um de seus momentos de oração (At. 10:9-48) e o envio para a primeira viagem missionária de Barnabé e Saulo (Paulo), fruto da vida de jejum e consagração da Igreja (At. 13:1-3). Uma leitura cuidadosa mostrará a oração e o jejum como práticas comuns daquele povo, e por ela não só discerniam a vontade de Deus, mas buscavam forças para cumpri-la diante das adversidades.
Uma oração inspiradora se encontra em Atos 4:23-31: Diante da situação adversa oram unanimemente, exaltam ao Senhor, relatam a ameaça, pedem intrepidez para prosseguir e poder de Deus manifesto (note-se que não pediram livramento simplesmente, ou que Deus removesse os obstáculos).
A oração que precede e acompanha a missão traz revelação e confirmação da vontade de Deus, revestimento espiritual, coragem e perseverança, graça diante das pessoas, provisão de recursos, livramento e proteção. Por ela também podemos ver cumpridos os propósitos da ação missionária.
Uma Igreja plantada em oração
Eu e meu marido, Pastor Marcos Julião, tivemos o privilégio de servir a Igreja na Região Missionária da Amazônia – REMA por cinco anos. Em 2013 fomos desafiados a plantar uma nova igreja em Manaus. Era uma proposta inusitada para nós, que sempre acreditamos no avanço da Igreja mas não tínhamos nenhuma experiência nesta área. Então, o desafio se tornou um sonho a ser gerado em oração. Depois de alguns movimentos e seis meses em oração, uma porta se abriu, já com espaço de culto (templo), numa parceria com a Missão Metodista Coreana, sediada num bairro estratégico da cidade. Local estabelecido, mais oração! Críamos que Deus nos abrira aquela porta e buscamos ajuda e direção para agir. Com nossa filha e genro, mais uma família metodista e alguns missionários que passaram por Manaus numa parceria, começamos a nos reunir no local, fazer evangelismo pelas ruas e divulgar o trabalho, sempre pedindo ao Senhor para abençoar nossas iniciativas. Em resposta, família por família, Deus foi compondo aquela Igreja que aos três anos, quando retornamos para nossa Região, já estava estabelecida – uma comunidade de amor e serviço, vivendo o discipulado, buscando vencer os desafios em oração.
Seguimos orando e crendo que:
“Sempre que a gente se encontra, e pede a Deus em oração
Fica forte, fica forte, e logo se põe em ação
Sempre que a gente se encontra, pra agir pra trabalhar
Fica forte, fica forte, e logo se põe a orar
É que a força do trabalho e a força da oração
Andam juntas, andam juntas, elas nascem da união”.
Mauren Gomes Furtado Julião
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