O metodismo e a questão do racismo
20 de novembro | Dia da Consciência Negra
Rogo a Deus que já não exista isto! Que jamais roubemos e vendamos a nossos irmãos como bestas! Que já não os assassinemos por milhares e dezenas de milhares! Oh! que se tire de nós outros para sempre essa abominação (...). A destruição total e final deste horrível comércio encherá de júbilo a todo aquele que ame a humanidade (John Wesley).
Ao longo de todo o texto bíblico encontramos todo o tempo a ênfase na defesa da vida e de toda a criação de Deus.
A promoção do direito e da justiça está presente como fundamento da ação de homens e mulheres que servem a Deus e são chamados para o testemunho do evangelho e o discipulado.
Assim foi na vida e no ministério de John Wesley. Entre os anos de 1787 e 1791 ele chegou a escrever diversas cartas e reflexões em defesa da abolição se posicionando contra a escravidão – o que o insere entre os abolicionistas ingleses de primeira hora.
Em sua carta para Samuel Hoare, em agosto de 1787, Wesley escreveu:
Senhores, – Há uma semana, fui favorecido com uma carta do Sr. Clarkson informando-me de seu projeto verdadeiramente cristão de obter, se possível, uma lei do Parlamento para a abolição da escravidão em nossas plantações. Desde muito tempo – especialmente depois ter lido tratados do Sr. Benezet e que o Sr. Sharp tem escrito sobre o assunto – eu mesmo desejava ver deslanchar o avanço contra algo que é reprovado não só por parte da religião, mas pela própria humanidade.
Nota-se na afirmação de Wesley, a valorização da presença pública da Igreja a favor da abolição da escravidão, uma ação necessária e verdadeiramente cristã. Mais adiante, nesta mesma carta, Wesley adverte e orienta o proponente sobre a oposição a essa ação abolicionista, que não será aceita de modo tranquilo por todas as pessoas, e que ao tratar deste tema ele deve saber que irá mexer com interesses de grupos poderosos, e deve se preparar para “uma oposição áspera e violenta”, mas em momento algum o desencoraja, ele diz:
Sem dúvida nenhuma, você deve se preparar para encontrar uma áspera e violenta oposição. Afinal, os escravistas são numerosos, ricos e, consequentemente, um grupo muito poderoso.
Trata-se de assumir uma posição ativa em favor da vida, do direito e da justiça, não aceitar como natural e comum o fazer “a separação e discriminação de seres humanos”, como nos ensina Tiago 2.1: “Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas”.
Fazer acepção de pessoas é separar, discriminar, ou criar uma forma de “hierarquia” entre os seres humanos como uma “escala” de maior e menor importância, e tratar as pessoas de acordo com essa classificação. A Bíblia (em Tiago 2.9) nos ensina que essa prática é um pecado: “Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado”, e que os cristãos e cristãs são conhecidos pelo amor ao próximo.
Neste sentido, compreendemos a importância do dia 20 de novembro – Dia da Consciência Negra –, visto que em nosso País os dados e a história revelam a insistência no racismo impregnado nas relações sociais (racismo estrutural), gerando inúmeros sinais de violência, ódio e dor.
A data nos permite refletir e buscar ações que fortaleçam a igualdade, a justiça e o direito para todas as pessoas.
Existe, deste modo, a necessidade de afirmar, orar e buscar a igualdade e a justiça social em nosso País, visto a insistência perversa e pecaminosa do racismo estrutural que se expressa nos gestos, olhares e expressões, ao mesmo tempo em que dominam as práticas de invisibilidade social em relação à população negra e parda.
No Brasil, “um homem negro tem oito vezes mais chances de ser vítima de homicídio que um homem branco”; nas 500 maiores empresas que operam no País, em somente 4,7% existem pessoas negras na direção (GOMES, p. 32).
Como discípulos e discípulas de Jesus somos desafiados/desafiadas a seguir diariamente Seus passos, testemunhando o Seu amor, e a Sua justiça.
A propósito deste mês da consciência negra assumimos nossa responsabilidade na promoção dos valores do evangelho:
orando, testemunhando e proclamando o amor do Senhor, que nos tirou das trevas para a Sua maravilhosa luz.
Para o aprofundamento desta reflexão indicamos o estudo da Carta Pastoral dos Bispos e Bispas Metodistas sobre o pecado do racismo, publicada em 2011 e disponível na internet.
Assessoria de Direitos Humanos da 3ª Região Eclesiástica da Igreja Metodista
Referências utilizadas no texto:
GOMES, Laurentino. Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2019. Volume 1.
IGREJA METODISTA. Racismo: abrindo os olhos para ver e o coração para acolher. Carta Pastoral dos Bispos e Bispas Metodistas. Biblioteca Vida e Missão. 2011.
RUNYON, T. A nova criação: a teologia de João Wesley hoje. Tradução Cristina Paixão Lopes. São Bernardo do Campo: Editeo, 2002.
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