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Os desafios de uma vida de integridade perante o Senhor


Tudo o que é saudável pode vir a se corromper. Tudo o que hoje é puro poderá não sê-lo amanhã. Tudo o que começa como algo intrinsecamente bom, pode se revestir de corrupção em seguida. O que se mostrou irrepreensível hoje pode se tornar repreensível amanhã.


Essa é a nossa sina: a tendência de desviar, de cair, de se perder. Daí a necessidade de nossa caminhada com Deus se revestir de uma constante correção de rumos, e de um constante autoexame, pois “o meu povo é inclinado a desviar-se de mim” (Os 11.7), diz o Senhor.


Na Carta Pastoral “Discípulos/as nos caminhos da Missão servem com integridade”, o Colégio Episcopal nos aponta aspectos importantes de como construir a integridade à luz dos princípios da Palavra. Nesta breve reflexão pretendo identificar alguns perigos que podem causar abalo à integridade de todo/a discípulo/a.


O ego, o sucesso, e a vaidadeNosso ego está sempre à busca de gratificação, mimos, elogios, satisfação e recompensa. A motivação do ego oscila ao sabor de “modas” e “tendências”. Pode haver discípulos que durante algum tempo buscarão conquistar ‘coisas’, ganhar aplausos, ou buscar reconhecimento... Desejos desordenados levam a uma vida desordenada e busca de ‘sucesso’ é sempre uma desordem. Bonhoeffer em seu livro “Ética” (p.52), vai dizer que vivemos em um mundo em que o sucesso é o parâmetro para todas as coisas. E quem sucumbe a ele se torna “cego”, e a capacidade de discernimento ético embota-se diante da “glória do bem-sucedido”. Discípulo não é chamado ao “sucesso”. É chamado a viver em fidelidade.


A vaidade é outra inimiga da integridade. A humildade, sempre presente nos “pequenos começos”, mais tarde pode se transformar em vanglória. O Pregador (Eclesiastes) nos lembrará inúmeras vezes da palavra “hebel” [‘vaidade’... ‘ilusão’]. Discípulos ainda imaturos podem realizar a obra com espírito egoístico. “Na verdade, todo homem por mais firme que esteja é pura vaidade” (Sl 39.5), nos diz o salmista. Entretanto, ao discípulo íntegro não bastará apenas fazer “coisas certas”, mas será fundamental motivações corretas. Para ele, a sua glória é esta: aquela que vem de uma consciência sincera de quem anda em obediência, de quem vive em fidelidade a Deus (2Co 1.12). Melhor assim: ele não ficará dependente de reconhecimento do homem – que ora se tem, ora não tem. O único aplauso que realmente conta é aquele que vem do Céu. Isso lhe basta e é a sua grande motivação.


Paulo, em seu zelo de preparar a Igreja para ser a Noiva de Cristo, sempre demonstrou receio de que ela se apartasse “da simplicidade e pureza devidas a Cristo” (2Co 11.3).


O perigo dos desequilíbriosUma vida de integridade passa forçosamente por uma existência marcada por relacionamentos saudáveis. Mas é preciso reconhecer: tem nos faltado domínio das emoções, e temos ‘explodido’. Acontecimentos banais do cotidiano da vida igreja são transformados em ‘cavalos de batalha’. Falta moderação. Sobra destempero. E a ira tem sido a marca deste tempo. Jesus não veio apenas para salvar o homem do pecado e da morte, mas também de seus desequilíbrios. “Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias...” (Ef 4.31), nos ensinou o velho apóstolo. Às vezes, tudo o que Jesus pedirá aos seus seguidores não será “mais” oração, ou “mais” jejum..., mas somente um pouco de bom senso.


Falar de integridade é falar de respeito, humildade, e consideração dos outros como “superiores a si mesmo” (Fp 2.3) ... uma “moderação conhecida de todas as pessoas” (Fp 4.5). Soaria estranho um discípulo afirmar que se “submete a Deus”, mas não respeita aos pais, não reconhece o seu lugar no Corpo, e vive “em rebelião”... “Acatem com apreço os que trabalham entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam” (1Ts 5.12).


E por que é tão importante ao discípulo ter uma vida marcada por relacionamentos curados? “Para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios” (2Co 2.11). Um discípulo que deseja tomar parte da natureza divina olhará constantemente para dentro de si e reconhecerá suas fraquezas, suas contradições, suas motivações... “Examinai-vos, provai-vos a vós mesmos” (2Co 13.5).


Fé não fingida, fidelidade e honestidadeA Pastoral do Colégio Episcopal nos adverte que “a falta de inteireza faz com que surjam outros pecados, tais como a hipocrisia, a vida de aparências”. Isso nos faz lembrar do encarcerado apóstolo escrevendo ao seu pupilo Timóteo, jovem que lhe trazia à memória boas recordações de sua “fé não fingida” (2Tm 1.5). A fé de Timóteo era sem máscaras. Ele não desempenhava “papel” de discípulo. Ele era um. Enfrentou crises na igreja, enfrentou enfermidades, enfrentou suas próprias fraquezas, mas se manteve compromissado com a obra que lhe foi confiada. Timóteo recebia orientações e direcionamento de seu velho mentor. O discípulo que vive em integridade jamais é um rebelde. Ele caminha em inteireza de coração, por isso aceita ser mentoreado.


O grande desafio para a Igreja hoje, não são exatamente os que abertamente renegam a fé, mas aqueles que estão ‘dentro’ dela, mas relutam em se definir. Como um pêndulo, ora estão com Deus, ora se afastam de Deus... Falta-lhes a perseverança que os levará a suportar os momentos de adversidades e a não estranhar “o fogo ardente” que a todo o momento surge para prová-los (1Pe 4.12).


Fidelidade e honestidade sempre serão sentimentos dominantes do/a discípulo/a íntegro/a para com a sua igreja e a sua denominação. E não poderia ser diferente. Um reino dividido não subsiste. Não obstante, tem sido cada vez mais comum, discípulos/as em posição de liderança no Corpo, “discordarem” dos padrões confessionais de sua igreja e, depois de algum tempo, intenções inconfessáveis vêm à tona, trazendo divisão e sofrimento no seio da Igreja de Cristo. Discípulos/as fundamentados na Palavra, não darão “motivo de escândalo em coisa alguma, para que o ministério não seja censurado” (2Co 6.3).

Honestidade, verdade e fidelidade são valores inegociáveis. Quando estão ausentes na vida do discípulo/a, a igreja não poderá se furtar de chamar o pecado de pecado. Mesmo os pecados mais secretos são contaminação para o Corpo de Cristo. Talvez a melhor maneira de ajudar discípulos/as a reconhecerem os seus erros e arrepender-se não será tratando-os/as com indulgência. Discípulos/as podem e devem ser confrontados/as. Em Antioquia, Paulo confrontou a Pedro “face a face” porque este não estava procedendo corretamente segundo a verdade do Evangelho, e se tornara repreensível (Gl 2.11-14). Nenhum/a discípulo/a está isento de errar. Nem de ser repreendido/a. Paulo fez isso para o bem do Evangelho.


De fato, são inúmeros os desafios a serem vencidos diariamente para que conquistemos uma vida cristã íntegra perante o Senhor, perante a Sua Igreja e perante o mundo.


Que Deus nos ajude nesse propósito.


por Daniel Rocha

Pastor da Igreja Metodista Central em Santo André e SD do Distrito Grande ABC


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