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  • Foto do escritorSede Regional 3RE

A Igreja e a prevenção ao suicídio. Uma reflexão.

No site www.setembroamarelo encontramos, em números oficiais, que 32 brasileiros se suicidam a cada dia.Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 10 casos, 9 poderiam ser evitados se houvesse busca de ajuda e mais informações a respeito desse mal “silencioso” .


“Iniciado no Brasil pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o Setembro Amarelo realizou as primeiras atividades em 2015 concentradas em Brasília, DF. Mundialmente, a Associação Internacional para Prevenção do Suicídio (IASP) estimula a divulgação da causa, vinculada ao dia 10 do mesmo mês no qual se comemora o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio”.[1]


Nem sempre as pessoas sabem que podem ser ajudadas. Há também a dificuldade de se obter informações sobre os sintomas e/ou sinais. Muitos sofrem com uma dor interior e suas limitações. Como enfrentar esse dilema que nos cerca? Falar é a melhor solução!



A Bíblia retrata o sofrimento humano ao longo de suas páginas em momentos diversos no processo em que Deus se revelou por meio da história. Entre estes sofrimentos encontramos testemunhos que manifestaram sentimentos de grandes tristezas.

Davi foi um destes personagens da Bíblia. Veja como ele se expressou em um momento de extrema fragilidade:

“Pois incontáveis problemas me cercam, as minhas culpas me alcançaram e já não consigo ver. Mais numerosos são que os cabelos da minha cabeça, e o meu coração perdeu o ânimo” – Salmo 40.12 (Nova Versão Internacional).


Outro salmista expressou assim suas angústias:

“De tanto gemer estou reduzido à pele e osso. Sou como a coruja do deserto, como uma coruja entre as ruinas. Não consigo dormir; pareço um pássaro solitário no telhado... Meus dias são como sombras crescentes; sou como a relva que vai murchando” – Salmo 102.5-7;11 (Nova Versão Internacional).


Quando as lutas são maiores que nossas forças elas retiram de nós o ânimo, o fôlego, abate a alma. Essa realidade ocorreu na vida de Davi, homem segundo o coração de Deus. Poderíamos ainda citar outros/as que se viram abatidos como Elias, Jó, Jeremias, Jonas, Noemi – que pediu que lhe chamassem “amargurada” (Rute 1.20), Paulo que expressou seus limites à Igreja em Corinto da seguinte forma: “Irmãos não queremos que vocês desconheçam as tribulações que sofremos na província da Ásia, as quais foram muito além de nossa capacidade de suportar, ao ponto de perdermos a esperança da própria vida” (2 Coríntios 1.8). Falar, expressar é a melhor solução!


A dor da desesperança abate a alma. Contudo observa-se que ela também se manifesta intensa e perigosa quando não é visível, silenciosa, quando a pessoa não manifesta em palavras seus sentimentos. Esse é um comportamento crescente na pós-modernidade.

As pessoas estão se fechando dentro de seu “mundo particular” e deixando de expressar, dialogar a respeito de suas dificuldades e sentimentos.

Surgem a cada dia sintomas de depressão sem aparente causa exterior. É a alma clamando por ajuda, sem palavras. Por isso tudo, falar é a melhor solução para prevenção ao suicídio. No testemunho de Jó, encontramos seu desabafo, sua fala: “Minha vida só me dá desgosto; por isso darei vazão à minha queixa e de alma amargurada me expressarei” – Jó 10.1 (Nova Versão Internacional).


A dificuldade de expressar os sentimentos ou entender os sinais da depressão tem conduzido muitas pessoas na sociedade mundial, religiosa ou não, a infelizmente ceder ao suicídio, trazendo aos familiares dores e sentimentos confusos. Quando focamos o nosso atual contexto religioso, observamos que o fenômeno do suicídio cresce e atinge também os/as pastores/as. Em 5 de janeiro deste ano, no jornal O Expositor Cristão, o Pastor José Carmo da Silva escreveu um artigo sobre suicídio e deixou sugestões de como a Igreja Metodista pode contribuir na prevenção contra o suicídio. Assim iniciou abordando o tema:


“E nós metodistas com isso? – Eu já havia escrito meu último artigo de final de ano, intitulado “Retrospectiva e esperanças de um Seguidor do Caminho – Diário de bordo”. Minha ideia era retornar as postagens somente em 2018. Todavia, diante da notícia da ocorrência do quarto caso de suicídio, somente neste mês de dezembro, envolvendo pastores, eu mudei meu propósito. O mais recente caso envolve a pastora Lucimari Alves Barro que pastoreava a Igreja do Evangelho Quadrangular em Criciúma – Santa Catarina. Ela cometeu suicídio na quarta-feira, dia 27 de dezembro, e seu enterro aconteceu na quinta-feira (28), no Cemitério Municipal de Morro da Fumaça em Criciúma”.[2]


O Pastor João Rainer Buhr, teólogo Batista, em seu livro “O sofrimento do pastor” narra os difíceis momentos da família do Pastor Agnaldo Alonso Freitas Junior, da Primeira Igreja Batista de Serrinha, BA, que se suicidou em 9 de setembro de 2014.[3] Pastores/as que sofrem a dor interior e, em depressão e calados, deixaram um sinal para a Igreja e terapeutas refletirem. “A necessidade da escuta terapêutica se reflete na vida dos pastores. Sendo eles mesmos ouvintes de muitas situações de angústia e dor, percebem-se por vezes aturdidos ou angustiados, ou simplesmente somatizam suas dores sem dar conta da demanda emocional que enfrentam e quando procuram um ombro amigo, nem sempre conseguem. Portanto, a pergunta que se impõe é: Há lugar para uma escuta misericordiosa, nas estruturas eclesiais quando o confessante é um pastor?[4]


Falar é a melhor solução!


Os índices de suicídios por ano no mundo todo são alarmantes[5] (Dados da OMS em maio de 2017):

1º: Índia (258 mil);

2º: China (120 mil);

3º: Estados Unidos (43 mil);

4º: Rússia (32 mil);

5º: Japão (29 mil);

6º: Coréia do Sul (18 mil);

7º: Paquistão (13 mil);

8º: Brasil (12 mil);

9º: Alemanha (11 mil);

10º: Bangladesh (10 mil).


Temos diante da Igreja um grande desafio. Uma sociedade violenta, confusa, excessivamente relativizada, competitiva, que valoriza mais as relações superficiais e o egoísmo gerando no interior das pessoas (religiosos ou não) maus pensamentos e sentimentos que necessitam de cura e cuidados.

Jesus disse: “Pois do interior do coração dos homens vem os maus pensamentos” (Marcos 7.21ª).


Buscar ajuda, falar é a melhor solução – “Senhor, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me assento e quando me levanto; de longe percebes os meus pensamentos... Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece as minhas inquietações” (Salmo 139.1-2;23) (Nova Versão Internacional).


Luis Carlos Lima Araújo

Pastor na Igreja Metodista em Água Fria.


[1] Fonte: http://www.setembroamarelo.org.br/historia/

[3] BUHR, João Rainer; “O sofrimento do pastor” um mal silencioso enfrentado por Paulo e por pastores até hoje/ Curitiba, PR, Editora Esperança, 2017, pg.29.

[4] Roseli M.K.de Oliveira, Cuidando de quem cuida: Um olhar de cuidados aos que ministram a Palavra de Deus; Joinville; Grafar, 2012; p.58-59;


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